novembro 28, 2013

Venimos de muy lejos

fomos ao cinema
um filme sobre a imigração italiana em Buenos Aires

eu tava do lado dele e não vi
mas quando saímos ele me contou

que chorou.

outubro 11, 2013

Para minha vó,

tenho uma lembrança nítida das suas mãos juntinhas com os dedos gordinhos se emaranhando entre si.
como um sintoma de impaciência.
lembro do seu jeito de andar a passinhos curtos, mas rápidos e firmes.
mesmo com os sapatos de um número a menos que seus pés.
lembro de irmos te buscar em casa e te ajudar a entrar no carro.
ganhar um bom dia contente e um beijo na cabeça com as suas mãos gordinhas nas minhas.
e estar do seu lado durante todo o caminho.
seja à Guarapiranga num domingo de manhã ou indo almoçar no restaurante da rua de cima.
lembro das suas histórias.
lembro de você implicando com minha mãe e depois buscando conforto me mim.
não sei se eu verdadeiramente te confortava, vó.
mas espero que tenha te dado o mínimo de afeto que você precisava.
queria muito poder te ouvir de novo.
curioso como o visual permanece bem, mas parece que a voz vai ficando meio esquecida.
queria ter te gravado me contando alguma coisa.
queria que você soubesse que eu te amo.
não sei se te disse isso muitas vezes 
mas lembro bem de ter dito em um dos últimos dias.
enquanto apertava sua mão gordinha numa cama de hospital.
e disso eu não gosto de lembrar.
esse nunca foi seu lugar!
minhas melhores imagens de você estão na praia.
te acompanhando em uma caminhada no calçadão.
ou te vendo da cozinha na sacada da sala.
tomando água tônica ou cerveja.
olhando o mar.
esse sim era o seu lugar!
a água.
e se escorre uma lágrima aqui é por tudo.
pela tristeza da insegurança do que eu fui pra você.
eu te confortei? eu demonstrei que te amava? eu te fiz bem?
mas também é pela felicidade da certeza de ter passado bons momentos com você.
por ter te visto sorrir.
e por ter sorrido junto com você.
éramos sempre três.
eu, você e mamãe.
tão diferentes e tão juntas.
me desculpa por tudo.
obrigada por tudo.
nos vemos em outra vida, espero.
e que haja um abraço apertado.
e um terno beijo na cabeça.
te amo e sinto saudade.

outubro 03, 2013

Pedro tem umas olheiras profundas.
Mas uma doçura tamanha no olhar que a gente se distrai e acaba que nem percebe.

Eu pergunto:
¿Pedro, no te gusta dormir?
Ele ri e me responde:
No de noche.

Varamos a madrugada sorrindo a doçura dos olhos dele.

setembro 19, 2013

pucho

às vezes
quando eu fumo
lembro d'ocê.
isso podia até ser poesia né
se não fosse por motivos de:
estou fumando.
tu tem uns olhos redondinhos
e cheios de água
e esse sorriso que quase sai
mas não sai.

tenho vontade de boiar nas suas pupilas
e ser tragada pra perto.

me conta
da vida

quero me espreguiçar na tua boca
abrindo um sorriso leve nela.

e aconchegar minha mão no teu pescoço
enquanto você se aconchega na minha pequena existência

e me soma a sua.

setembro 14, 2013


cerra esses olhos
vai pra dentro
olha a alma
cutuca os pulmões
vê se tu tá respirando de verdade
mergulha na veia
e se suja de sangue como se fosse lama
desce até a ponta dos pés e fica lá
no unha suja do dedão
e contempla de olhos fechados
a tua existência tão pequena.

mas sai de si quando te arrancarem a unha
se canse de olhar pra dentro
se canse dessa curva na coluna
e abra bem os olhos
percebe as curvas outras
vê como todo mundo tem a mesma lama que tu
respira junto
se aproxima
ajuda a cutucar o pulmão dos outros
pra que eles vejam se tão respirando mesmo
conversa com a alma dos que passam do teu lado
fala
ouve
e vê
se além de respirar,
tu tá existindo de verdade.


agosto 27, 2013

james browse

um grande amigo
desses homens que são grandes mesmo
que tem a barba suja na cara pronta pra uma cachaça
que fala de bukowski
e que divaga sobre a vida com um cigarro na boca
num boteco
na cozinha de casa
ou jogado no asfalto;

um amigo grande
desses que me viu chorar num carnaval
porque havia uma marchinha triste a ser cantada
e me deu a mão
e o peito.

um amigo meu
que às vezes nem se dá conta de seu próprio discurso babaca
mas que assume a sua babaquice
e ri de si mesmo
ri de mim
e ri do mundo
- que em geral é uma grande bosta
e ao mesmo tempo não é.

esse amigo me disse:
quando você voltar vai ter um carnaval te esperando.

sorri.

porque sim, teremos muitas marchinhas alegres pra cantar
e mãos
jogadas pelo ar
e peitos abertos
sorrisos sinceros
passinhos de dança
cachaça
e tudo mais que não cabe em palavras.

e

digitou: surte!
mas logo corrigiu: suerte!
tomei pra mim os dois desejos.

agosto 13, 2013

Passeando

Às vezes me vem a sua imagem na cabeça.
Seus ombros largos.
Você largo.
E pequeno.
Mas com existência suficiente pra me envolver nos braços.

Às vezes eu lembro das suas costas largas só em pele
E te imagino virando pra trás e olhando pra qualquer coisa que não seja eu

Às vezes eu vejo nitidamente o seu rosto coberto pela barba não feita
Rosto largo
Com um sorriso largo de preguiça, daqueles que se dá de manhã.

Às vezes
Só às vezes
Você vem pra perto do meu pensamento

Caminha vagarosamente por aí e quando se dá por si e eu já não me dou por mim
Já se foi
Passou

Às vezes
Só às vezes
Eu penso em você
Sem saber bem no porque do pensar

Só que aí...
Passa.

agosto 05, 2013

Sobre aquele e outros dias

Por um momento meus olhos fecharam de uma forma muito natural
E me veio um sorriso fácil pelo carinho recebido no rosto

Ele escreveu algo sobre isso
E acertou em cheio sobre o momento:

Guardei pra mim um pouco dele.

julho 17, 2013

Cê sabe que eu amo ela, né?
Sabe que vê-la triste é das piores tristezas que eu posso sentir.

Acho curioso o fato de que eu não sei lidar com algumas coisas.
Não sei lidar com a minha ida, por exemplo.
Queria que ela fosse.
Mais do que ir junto comigo,
Queria que ela estivesse indo
Pra onde a vontade dela apontasse.
Queria que ela me abraçasse e sorrisse.
E sorrisse e fosse.
Feliz.

julho 10, 2013














Não tem muita coisa, não.

Às vezes eu fico pensando no que dizer,
Que assunto ter...
A gente se olha de leve
Conversa de leve
E é bom.
Mas há vontade latente no corpo.

E eu me pergunto:
Porque é que a gente não se come logo e pronto?

julho 09, 2013

Pequeno encontro

Um guri com touca na cabeça
Que eu conheci de noite, perto do barulho, do bate-cabeça e da fogueira
E que carregava um caderno cheio de pequenas existências na mochila
Me convidou pra fazer poesia

"... Que às vezes não rima
Não combina
Mas incita
E propõe
Que, de novo, exista
Persista
Resista
Toda maldade do mundo
Arte virará!
Que a solidão ainda vira mar
E o mar ainda evapora e vira ar
Enquanto a gente sopra as nuvens pra perto
E se afasta do concreto
De noite
No escuro
Dormimos sobre as estrelas
Sem teto"

julho 06, 2013

Vuela.

Ganhei um voo do meu maior amor fraterno.
E há tanta vontade e vontade de tanto que meia dúzia de palavras jamais expressariam o sentimento complexo de ir e ficar ao mesmo tempo.

Ela disse: Voa.

E eu vou.
Próximos 6 meses en la Universidad de Buenos Aires, Diseño de Imagen y Sonido.



junho 30, 2013

Carrão

A gente se encontrou na saída do metrô
Se abraçô
E saiu pelos arredores do bairro que é mais dele do que meu

E a conversa vem acompanhada de riso.
Mas confesso que às vezes me incomodo em voltarmos sempre a um passado próximo
Como se faltasse assunto no presente e a gente recorresse ao mais fácil.
Quero o mais difícil.

Mas é bom estarmos próximos
No isolamento acústico e de mundo do carro
Se beijar
E quase acreditar
Que crescemos.

junho 20, 2013

espaço



aqui é a sede do dce da minha universidade.
lá em cima tem a sala do meu ca também.
do lado esquerdo se chega até o meu departamento.

aqui eu danço, canto, bebo.
beijo e abraço.
conheço.
aqui eu faço manilha, reunião, discussão.
participo - sempre que posso - do movimento estudantil.
aqui nessa universidade eu encontrei uma porçãozinha de gente boa.
gente grande.
que na verdade é pequena e sempre que posso engulo.
em abraço e beijo.
porque gosto.
aqui nessa cidade eu encontrei uma porção de ideias espalhadas.
e que me compõe hoje de forma bonita e sincera.
num processo contínuo.

aqui nesse lugar meio esquisito eu me deparei com algumas pichações.
a parede de fundo do palquinho eu nem me lembro mais como era, já mudou tanto!
sei que a lembrança será sempre das luzes verde e vermelha da boa kombi branca.
sei que aqui há escrito "Zé Luis e Rosa".
grande.
e que permaneça eterno.
tem escrito "vestibular: terrorismo social".
tem uma mulher crucificada no próprio útero.
que me chama a atenção sempre.
esses dias Alexandre Vancucchi deu as caras também.
no banheiro tem um "aqui jaz o movimento estudantil" - num acesso nosso de decepção, confesso.
indo pro departamento tem um torto "muita câmera, pouco cérebro"
pra eu me lembrar sempre que pensar ainda é mais importante do que apertar o rec.
e nesse lugar esquisito tem tanta opinião, posição e pensamento
que eu acho que tinha até que ter mais espaço pra ser preenchido.

engraçado que hoje eu vi um palquinho vazio numa quarta-feira a noite.
depois de uma aula medíocre.
mas que foi precedida por uma prosa boa sobre luta por direitos.
e a verdade é que esse palquinho tá sempre cheio de tudo e de todos, mesmo que momentaneamente vazio.
tá vivo, respirando.
passei e vi esse novo grito:
"meus pelos, minhas regras".
e fui toda sorriso.

junho 17, 2013

A#

Vem pra perto dos meus olhos pretos e se afunda
Cheio desse sorriso agudo
Me alcança com seu corpo e se enrosca no meu
Quero as cores pintadas do seu braço colorindo a minha nuca
E que minhas mãos em completa desarmonia te façam arranjos
E gemidos
Em sustenido

Vem do meu lado e me acompanha na dança
Quero meus pés circunscrevendo sua sonoridade toda
E que nossas vozes agudas se calem por um uso melhor das bocas
Me beija com ânsia, cor e ruído.
Me permite dar a volta na sua cintura e alcançar seu umbigo desprotegido
Que a gente pode se encontrar com um pouco mais de verdade,
Um pouco mais de mentira

Fingindo ser artista.

junho 11, 2013

não sei cadê você.
não sei das suas vontades
de novo.

não sei cadê você que não esbarra mais em mim.
não sei eu e você.
cadê?
não sei da sua voz, e dessa barba que suja a cara.
cadê você que não me quer mais?
podia ser mais simples te perder.
ainda dói um tiquin.
e cadê?

posso colocar algo pra ouvir
e fingir
que de tão leve
acaba que nem parece dor.

e vou.
mesmo sem querer
sem saber

cabô.

abril 29, 2013

Cena 29

Te vi na porta do cinema tentando escolher o que assistir.
Numa sutil coincidência que os roteiristas todos tentam arquitetar.
Continuei caminhando
E se fosse mesmo filme, teria sido o travelling lateral dos meus olhos
Instável, feito câmera na mão.
Queria te contar que talvez eu vá pra Argentina.
Mas acendi um cigarro e fui embora.
Ouvindo Tame Impala.

março 09, 2013

de luta


tinha uma cor no céu.
uma cor na vida, que eu não sei dizer ao certo.
gastamos passos e saliva e canto e dança e luta.

tinha uma cor no sorriso das pessoas.
tinha uma cor na música dos instrumentos, na música do canto e na música dos corpos em plena existência.
e essa luta é de todos. é de todos nós.

tinham algumas várias cores na minha alma que eu jamais saberia expressar.
e tinha uma luta que ainda há.
e ainda há.
e ainda há.


março 04, 2013

Quase foi cinema

Perdi a sessão de um filme.
Mas estava perto de sua casa e passei por lá.
Perdi a tela cheia, as luzes apagadas, uma história a ser contada.
Mas ganhei um cheiro de existência e uma história real que por mais simples que tenha sido, nenhum filme seria capaz de me dar.
Estava perto de sua casa e passei pra simplificarmos nossos últimos meses em alguns minutos de conversa.
E quase foi cinema o filme que perdi.

fevereiro 20, 2013

companheira

uma sala
um mundo inteiro do lado de fora
e outro dentro de nós

nos achamos
e às vezes nada parece mais bonito e sincero do que isso.


fevereiro 15, 2013

retina

um dia eu vou te olhar nos olhos
e dizer a minha dor completa
sem pedaços

eu vou te mostrar o quanto de ar existe dentro de mim
ao compartilhar por completo a minha existência

e você vai estar nos meus olhos também
ouvindo minha maior verdade
ao som dessa voz

essa. que aos poucos você esquece como é

um dia eu vou
e estaremos na nossa máxima transparência
pupila por pupila

janeiro 26, 2013

dri

Ela deve estar no topo da Cordilheira, olhando o mundo por cima das nuvens.
E sorrindo seu sorriso de alegria.

Ela deu à luz duas das pessoas mais importantes de nossas vidas.
Fez feliz meu irmão.
Esteve com meus pais como uma filha.
E me presenteou com sua família inteira, aqui e lá na Bolívia.

Não há muito o que dizer.
Um sorriso subiu.
Se foi e deixa a dor da certeza de não ser mais visto.

janeiro 06, 2013

novo


que eu preste mais atenção na minha respiração.
e diga mais
não.
que eu deixe de responder se não me der vontade.
e diga mais o que eu quiser dizer.

que eu respire mais
e preste mais atenção nisso.

pequenas doses de existência
que afinal
eu existo.