dezembro 23, 2012

nº 1694

Cheguei. E foi a primeira vez, dentro desses dois anos, que percebi a beleza de algo que parecia tão natural: ter a chave de casa.
Ver as plantas novas no corredor. O chão do quintal sujo de chuva.
E entrar.

novembro 25, 2012

âncora

engraçado como eu ainda não conheço de perto nenhuma das suas tatuagens.
sim, isso significa a nossa absurda distância.
e sempre - absolutamente sempre - dói quando me lembro dela.
o que acontece cada vez menos,  in felizmente.

novembro 03, 2012

cê ah.



janelas sujas
calote social
cigarro e cerveja
música
e pensamentos subversivos
eu pergunto: porque fazer cinema?


e as janelas continuam sujas de exposição ao tempo
e as companhias sujas de inconstâncias atemporais
queremos ser mais
sendo ainda tão pouco.

outubro 29, 2012

cinza


saudade do cinza
do coração apertado entre os edifícios e no meio do metrô lotado
dos pulmões mal respirando o ar poluído com excesso de amor mas falta de demonstração.
saudade sincera do sorriso frouxo dos pais
e dos olhos ansiosos dos sobrinhos
saudade da convivência com os irmãos
e das amizades que andam em ruas desencontradas.
saudade da vó que se foi
mas permanece em afeto num quadro no meu quarto.
colorido.


outubro 06, 2012

peque

ele me chama de pequena.
e pede pra eu estar perto.
às vezes meus pequenos seios encostam no corpo dele.
às vezes ficamos ali.
às vezes avançamos.
e ele me chama de pequena.
e ganha minhas pequenas palavras, meus pequenos gestos.
às vezes eu gosto dele.
às vezes ele não tem graça.
às vezes eu gosto dele e me deixo ser pequena ouvindo o que ele fala.
e eu falo também.
e ele me ouve.
e me responde.
me chamando de pequena, mas me tratando como grande.
como importante.
ele me chama de pequena naquele carinho.
naquele afeto.
diminutivo.
e às vezes eu gosto tanto dele.
e que ele me chame assim.
"tá por ai, pequena?"
tô sim.

agosto 29, 2012

agosto 28, 2012

(Pequeno conto de coisas que não acontecem)

A menina era pequena, batia nos ombros do rapaz.
Num determinado momento ela se sentiu sem jeito, perdida num vácuo físico.
Envolveu seus braços em si, olhou em volta e o viu.
Ele sorriu, aquele sorriso fraco dele.
E pronto: o jeito havia voltado.
Mas ela ainda era pequena e continuava a alcançar apenas os ombros do fraco sorriso.
Podia ter sido um abraço.
Nem isso.

agosto 27, 2012

meio amargo

oi
aceita um café e um sorriso meio amigo,
meio doce, meio familiar?

agosto 15, 2012

Seria gentil da sua parte
gritar
que me quer.
Essa total insegurança
me deixa
de sorriso frouxo no rosto
e as pernas bambas.

agosto 05, 2012

instabilidade

chega perto e me faz um carinho.
afaga minha insegurança no seu sorriso.
aberto, largo, de verdade.
enquanto andamos a pequenos passos pela grande cidade.

agosto 01, 2012

maquiagem

- Alguém pode trazer um sorriso pra essa menina?
- E dança pra esses pés sujos de chão, por favor.

julho 30, 2012

velho

Já nem sei como a sua voz varia no meio de uma conversa e me esqueci por completo do cheiro da sua nuca.
Também não lembrava que gostava tanto de você. Mas ainda.


julho 17, 2012

No frio

Estávamos eu e minha mãe cheias de blusas aconchegadas num abraço. Ri e disse:
- Dois balõezinhos se abraçando.
E ela me respondeu:
- Mas se eu soltar, tenho certeza que um monte de gente corre atrás...

julho 14, 2012

fumamos na calçada do cinema.
e há poesia suficiente pra mim aqui: na composição eu e ela desconversando sobre a vida na fumaça de nosso trago.

julho 05, 2012

cantoria


Ela canta mal, vamos admitir.
Nunca gostei das músicas dela. A menina do cabelo louro também não. Era um consenso.
Mas ai você veio na minha vida.
Me invadiu com seu sorriso e sua música própria.
E me apresentou as diferentes melodias que ela também tem.
Ainda assim ela canta mal.
Mas enquanto canta, eu e você estamos bem
De um amor incondicional.
Bem de um bem querer natural.
A menina dos cachos castanha gosta dela.
E eu gosto da menina que gosta.

Lago


Sinto angustia ao chegar aqui.
Sinto a maior das solidões.
Na minha casa é tudo tão vazio, tão vago, tão branco.
E tão pesado.
Minha mãe tão rasa.
E profunda ao mesmo tempo.
Que me dá medo mergulhar nela.
Então a afasto.
E a cidade é tão grande e tão absurdamente nula!
Eu não tenho amigos aqui.
Não tenho pra quem ligar e chamar pra sair.
E me vejo indo ao cinema sozinha.

Eu...

Que nem sou apaixonada por ele.

Sinto distância de todo mundo que conheço.

Andando com o sol na pele e os pés calçados.
Como sou.

julho 01, 2012

de costas

ela fechou a porta do quarto
e entrou no mundo que é dela
da música dela
daquela menina que ela queria ser
e sem saber, é

eu coloquei minha orelha na porta fechada e ouvi
não entrei porque o mundo é dela
e sorri.

junho 21, 2012

segundos antes

eu sei quando você vem
quando se inclina e atravessa minha rua.
minha carne é fraca
e angulo minha boca na sua.

junho 02, 2012

fio

eu não sei ter o cabelo comprido
mas ando me esforçando

quero que ele abra espaço dentro de si para o vento
voe com a leveza
que eu não sei voar

e depois se trance do lado esquerdo do meu pescoço
com a firmeza
que eu não sei ser

maio 29, 2012

me pega pela cintura, respira no meu pescoço e me tira pra dançar smiths.

maio 27, 2012

glasses

Ele tirou os óculos
Os dele e os meus.
Minha visão falha só enxerga quando de perto...

Vi aqueles olhos redondinhos muito nitidamente.

E sem os óculos no rosto
Fomos tão somente duas visões falhas
Numa luz fraca e amarelada

maio 19, 2012

A parte que escreve


Me sinto em partes.
A sua é a parte em mim que gostaria de ter continuado com você, de ainda saber como andam as coisas e como andam seus desejos.
A parte que te ligaria pra um beijo.
E pensaria com carinho na sua barba se abrindo pra um sorriso.
A parte que ouve a sua voz dizendo alguma modernice e zombando inconscientemente da minha ingenuidade.
A parte, tenho outras em mim.
Tenho a parte do desgaste do trabalho.
Tenho a parte da saudade dos pais.
Tenho a parte de ter conhecido outra pessoa.
Tenho a parte da minha relação ultimamente muito instável com a amiga que se encaixa em minha alma.
Estou em partes...
E em tudo isso você só está a parte.
Como se estivéssemos distanciados e em partes diferentes da cidade, que antes me parecia tão pequena e próxima.
Desisti de te escrever algo explicando a minha ausência.
Não sei o quanto isso seria inoportuno e inválido.
Estou em partes.
E não tenho com quem dividi-las porque ainda me falta juntá-las.
E essa é tão somente a parte que escreve.
Porque existe uma outra que sente de verdade.

maio 14, 2012

a primeira coisa que me veio a mente enquanto abraçadas
foi o quanto era bom te ter.
mas eu não tenho a menor pretensão de te ter, menina.
te quero livre sempre
a me encaixar no seu abraço sempre que der vontade

abril 19, 2012

desenho livre

passei um tempo tentando desenhar o seu rosto
buscando os traços que conheço no toque.
não achei.
não tenho o dom dos riscos
e sim do riso
se me aparece de pronto
em carne e osso.

abril 05, 2012

indolor

é bonito perceber que sou um elemento que nunca imaginei ter algum tipo de proximidade.
sou água.
o raso, o profundo, a leveza, o denso.
sou aparência.
olhar. o que busco e o que tenho.
sou água,
numa imersão.
num mergulho ao nada que podia ser tudo.

fevereiro 20, 2012

carnaval

e naquele dia ela percebeu que a mãe era pirata.
que ela havia nascido e a mãe já era pirata.
que a mãe era fada, sempre soube.
e agora pirata.
porque havia asas na alma da mãe.
e a mãe era pirata.
e o fardo era meio que invisível.
porque a mãe era melhor pirata do que naqueles contos de fada.

fevereiro 06, 2012

somos

sou dessas que você encontra na feira
dessas almas que sentem
e desses corpos que existem enquanto matéria
sou desses sorrisos sem motivo
e das falas meio contidas
sou uma pequena obviedade
sou aquela dos olhos molhados
dos sentidos apertados
mas sempre em expansão
sou das que não sabem dar estrelinha
sou das que não sabem
mas são

janeiro 29, 2012

Bem

Não sei sobre essa barba na minha pele, sobre o fato de eu estar próxima ao seu peito e as suas mãos nas minhas segurando juntas a cabeceira da cama pra que ela não nos escape e caiamos no chão. Sei pouco sobre mim, sei pouco sobre você também. Mas você sobre mim...
Sei bem.

janeiro 22, 2012

Céu

Essa semana e o final dela. De chuva interna.
Foram os últimos dias em que a menina dos cachos cor de castanha morava com a menina da pinta na boca.
Foram igualmente os últimos dias em que a menina das pintas no queixo morava com a menina do sorriso maior que o quarto.
E eram os primeiros dias em que os cachos cor de castanha e as pintas no queixo conviviam tão intensamente a procura de morarem juntas.
Nenhuma delas sabe como se deu o desencontro.
Só sabem que ele ficou aqui, exposto.
A céu aberto.
Às cores, às formas, aos sorrisos e aos choros.
Tão contidos e tão envergonhados de si mesmos.
A menina das pintas no queixo grita para as outras três meninas que foi mais do que especial as ter conhecido tão verdadeiramente..
Ter morado e convivido com as sensações, as palavras, os objetos e as verdades do sorriso maior e mais bonito.
E ter pseudo morado com as sensações, as palavras, os objetos e as verdades da pinta na boca e dos cachos de castanha.
Espero com toda a alma encontrar o mais sincero daquele sorriso incontáveis vezes e retribuí-lo com o meu, igualmente cheio de sinceridade.
Espero com toda a alma que a pinta na boca e os cachos toquem e cantem juntas incontáveis vezes só pra si mesmas.
E espero, não menos do que com toda a alma, que a cor de castanha não se canse do meu queixo cheio de pintas assimétricas.




dia vinte e dois de janeiro de dois mil e doze pela fotografia da menina com a pinta na boca de um desses apartamentos cheios de histórias dessa cidade do clima chamada são carlos.