outubro 31, 2011




Cortaram o pé de amora
Aqui em casa eu não consigo ficar descalça
Há vento entrando por todas as janelas
O chão é frio
Mas eu tomo o café com gosto de afeto que o meu pai faz
Há um vazio na sacada do meu quarto.
Não há mais amoreira
Mas meu beijo chega até o rosto da minha mãe
E vão-se as amoras...
Ficam as tinturas no chão
Nas bochechas
As texturas da ausência
O doce da presença
O peito dentro do coração, o coração dentro do peito.
E vem... Dança comigo porque cortaram o meu pé de amora pelo pescoço.

outubro 27, 2011

Leve

Um bom e bem dado soco no estômago.
Pesado.
Densidade pura na respiração.
Mas respiro, e isso já implica que vivo.
E viver já é leveza por si só.
Estou bem.

Um bom e bem dado soco no estômago
Me curvo pra frente enquanto o corpo é impulsionado pra trás
Sulco gástrico rejeitado do corpo
Cérebro forçado a sentir
Pele forçada a pensar

Um bom e bem dado soco no estômago.
Sorriso ensanguentado.
Estou bem, obrigada por se importar.

outubro 24, 2011

Sequência

O plano que é por si só e dança e rasteja pelo tempo e pelo espaço é o plano sequência que flutua percorrendo as lacunas dos lugares e os suspiros dos instantes agradando o meu olfato porque tem cheiro de chá gelado.



Viaduto do Chá (1947)

outubro 18, 2011

Não há nada mais terrível do que lembrar dos seus olhos jogados na minha cama
O sol se levantando lá fora
E eu sendo feliz no seu sorriso extasiado de sono.

outubro 15, 2011

Sim, eu ando surtada


Uma instabilidade monstruosa dentro do peito vai afrouxando os meus cadarços...

Se ao menos as vozes tivessem se levantado por canto... A noite passada foi pouco agradável.

Eu passo dias e dias longe de quem passa horas e horas pensando no meu bem querer.
E quem eu quero bem, nem me quer tanto assim.
Às vezes desejamos poder voltar atrás.
Nunca conseguimos.

Eu sou pouco, já disse.
Tenho nas mãos meras desculpas.
E o sorriso de sempre guardado logo atrás dos lábios.

De resto, eu não tenho nada.
Noite passada eu cravei, de uma vez por todas, uma amizade linda dentro da minha vida.
Acordei cedo, arrumei um punhado de coisas e fui embora dar de presente pra os meus pais
o meu velho sorriso de sempre.

E eu caminho
ainda com as desculpas nas mãos, prontas a serem entregues.

Sei que enquanto ganho o abraço fraco da minha mãe
Ganho a eternidade do ciclo pelos mesmo braços.

E eu agradeço por estar caindo
E andando surtada.
"Morro de medo desse negócio de ser normal."


outubro 13, 2011

Caracol

Eu quero dizer a ela
Quero que ela saiba que eu sou apaixonada pelo fato de a ter encontrado
Os longos cachos cor de castanha vindos de uma cidade do interior
Se encaracolando nas minhas mãos
E aconchegando os sorrisos no peito

Sendo
E me fazendo

Bem.