Os pés num compasso descompromissado
Com as mãos nos bolsos de um casaco
Eu sinto o tecido na pele
Sem lembrar de senti-lo
E o vento que corta carinhosamente meu corpo
Arrepia meu cabelo mal cortado
Quando eu ando pelas ruas
Não lembro de sentir as coisas
Os pés encostam e pressionam o chão
Sem que eu dê algum valor a isso
E eles continuam tentando empurrar o mundo
Eu não sinto
Não me atento
Mas ao invés disso,
O chão é que me impulsiona pra frente
E eu continuo
Enquanto caminho pelas ruas
Enquanto digo felizmente algo
À alguém que me acompanha
Enquanto não lembro que existem substantivos abstratos
Por que enquanto eu caminho
É tudo concretamente real
Até mesmo a minha abstração é concreta.
E os pés não param
Por que eu ainda não quero parar.
outubro 22, 2010
outubro 10, 2010
Eu joguei uma pedra na cabeça da minha mãe
Essa seria a minha versão para "Eu matei minha mãe" -filme de Xavier Dolan.
Afinal, todos temos uma versão de amor e ódio aos pais
E talvez ainda mais especificamente às mães.
Que ela é tudo que tenho
E tenho mais um milhão de coisas que não são ela
Mas eu a tenho em mim
E isso já é o suficiente para tê-la em tudo que ela não estiver
E pouco mais de 24h atrás ela me disse explicitamente:
"Senti uma pedrada na cabeça quando percebi que você fez isso."
Joguei uma pedra na sua cabeça
Só por ser quem eu sou sem uma reflexão existencial disso
Tire as minúcias, mãe!
Que ouvir isso de você
Foi como receber pedradas na face.
Igualmente.
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