novembro 26, 2010

Ruídos audio-verbo-visuais

São só palavras, menina.
São só fonemas, sons, cantigas cansadas.
São só imagens, numa disposição casual ou causal dos objetos, das pessoas.
São só ruídos.
Ruídos internos vomitados pra fora.
É tudo só sujeira.
Infortúnios cômicos, irônicos.

É tudo só amor,
Ou ódio.
Ou é tudo só a busca por um e esbarrão em outro.

São só palavras desgastadas.

Nena,
A junção casual e causal dos ruídos:
É só o que quero mesmo da vida.

novembro 17, 2010

Àquela ruiva

Quando eu a conheci,
Ela ainda tinha o cabelo cor de noite cheio de faíscas vermelhas, laranjas e amarelas.
E para mim o cabelo dela era lindo.
Ela veio até mim com um jeito tão fora do comum.
Ela tinha uma segurança que eu quis ter.
Ela era completamente imperfeita.
E eu sempre tive uma propensão para coisas imperfeitas mesmo.
Eu a conheci no momento exato em que me tornava adolescente.
Não que naquele momento eu soubesse disso.
Mas quando eu a conheci eu soube que ela era tudo que eu queria ser.
Segura e imperfeita.
Ela dizia coisas fora do politicamente correto.
E não estava nem ai para nada disso.
E ela vivia um amor fora dos contos de fada que eu conhecia.
E ela dividiu todo esse amor comigo.
Ela dividiu as amizades e inimizades comigo.
Dividiu o amor e ódio aos pais.
Ela até teve a coragem de me mostrar que não era tão segura de si assim.
E eu aprendi de uma vez por todas que ela era perfeitamente imperfeita.
E que eu, explicitamente imperfeita, poderia ser assim como ela:
Encantadora.
E eu então percebi o quanto eu era segura de mim mesma!
E ela continuava na minha vida sem saber que eu existia.
Que eu não perdia um capítulo da vida dela.
Quando me dei conta de que ela era só uma personagem.
E esse amor todo se transpôs para quem a interpretava.
E ela era linda.
Agora já com o cabelo cor de fogo.
E descobri que a voz dela era de gralha.
A mais afinada das gralhas.
E as duas meio que se misturaram.
Para mim, eu sabia perfeiamente diferenciá-las.
Mas isso era quase impossível.
As duas juntas eram a garota que eu sempre quis ser.
E se todos nós temos um herói,
Ela foi a minha heroína.
Em verdade,
Não sei se Roberta Pardo
Ou Dulce Maria.

novembro 14, 2010

Pescoço

Sobe a nuca
Desce a nuca
Meus olhos se movem feito pernas

Direita
Esquerda
Seu pescoço se deita
Obliquamente
Sobe a nuca
Desce a rampa da nuca
Meus olhos brincam com seus poros
Como se fossem dedos
Esquecendo-se de que são tão apenas
Olhos

E só olham.

novembro 07, 2010

1kg de arroz barato

Numa quinta feira à noite
Havia um parque no meio do caminho
E ficamos pelo meio do caminho mesmo
Que o parque tinha o propósito da bebida e da companhia.
No meio do caminho havia um parque
Longe de ser de diversões
Mas era óbvio,
Ficaríamos no meio do caminho.
Que estarmos no parque
Seria a diversão da noite.
E o resto eu deixo de comentar,
Que o final foi mórbido.
Vômito, tontura, roupas sujas de terra
E um estranho arranhão acima da sombrancelha direita.
Mas valeu o arroz barato.
Valeu o porre e a ressaca.
Valeu ter visto as estrelas como se fossem as únicas.
As últimas.

novembro 01, 2010

Eu estava ouvindo vindo para cá

Para ,

Sempre, para o incerto da vida.

Não que seja mais certo do que aqui.

Mas para ,

Que eu sempre costumo ir.

Ao encontro dos sorrisos certos que conheço.

Para o colo dos donos de meus genes tão certos de que estou errada.

Ao passeio inseguro e insólido que é a vida.

Que eu estava vindo para cá

Para contar tudo aquilo que desconheço.

E eu ouvia.

Sorria, a alma certa de que existe.

E eu estava ouvindo vindo para cá

Eu ouvia enquanto via luzes;

Mystery Jets