Quando eu a conheci,
Ela ainda tinha o cabelo cor de noite cheio de faíscas vermelhas, laranjas e amarelas.
E para mim o cabelo dela era lindo.
Ela veio até mim com um jeito tão fora do comum.
Ela tinha uma segurança que eu quis ter.
Ela era completamente imperfeita.
E eu sempre tive uma propensão para coisas imperfeitas mesmo.
Eu a conheci no momento exato em que me tornava adolescente.
Não que naquele momento eu soubesse disso.
Mas quando eu a conheci eu soube que ela era tudo que eu queria ser.
Segura e imperfeita.
Ela dizia coisas fora do politicamente correto.
E não estava nem ai para nada disso.
E ela vivia um amor fora dos contos de fada que eu conhecia.
E ela dividiu todo esse amor comigo.
Ela dividiu as amizades e inimizades comigo.
Dividiu o amor e ódio aos pais.
Ela até teve a coragem de me mostrar que não era tão segura de si assim.
E eu aprendi de uma vez por todas que ela era perfeitamente imperfeita.
E que eu, explicitamente imperfeita, poderia ser assim como ela:
Encantadora.
E eu então percebi o quanto eu era segura de mim mesma!
E ela continuava na minha vida sem saber que eu existia.
Que eu não perdia um capítulo da vida dela.
Quando me dei conta de que ela era só uma personagem.
E esse amor todo se transpôs para quem a interpretava.
E ela era linda.
Agora já com o cabelo cor de fogo.
E descobri que a voz dela era de gralha.
A mais afinada das gralhas.
E as duas meio que se misturaram.
Para mim, eu sabia perfeiamente diferenciá-las.
Mas isso era quase impossível.
As duas juntas eram a garota que eu sempre quis ser.
E se todos nós temos um herói,
Ela foi a minha heroína.
Em verdade,
Não sei se Roberta Pardo
Ou Dulce Maria.